quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Sociedade


Levantou de sua cama. Caminhou até o banheiro, ainda um pouco perturbado pela má noite de sono. Olhou seu reflexo no espelho, e a única coisa que podia ver era a imagem de um homem com as marcas da vida visíveis em seu rosto. Depois de um tempo encarando seu reflexo naquele espelho um tanto enferrujado, voltou para o quarto, vestiu uma roupa qualquer e dobrou seu velho pijama de flanela vermelho.
Desceu as escadas.
Pegou uma xícara de café e um jornal. Isso pode até soar um tanto comum, mas para este homem era como um ritual. Se não o fizesse todas as manhãs, seu dia poderia ser horrível.
Sentou-se na cadeira de madeira velha e começou a ler o jornal. Notícias tristes. Seus olhos passavam por todas aquelas palavras, mas seus pensamentos estavam em outro lugar; um lugar distante. Não só distante dali, mas distante de tudo.
Ficava imaginando como a sociedade era tão sedentária, tão hipócrita. 'Se não me faz diferença na vida, não quero saber.'
Ficava se questionando o tempo todo o que se passava pela cabeça das pessoas, por não se importarem com o que está ao redor delas, com as pessoas próximas e semelhantes a elas. Caminhou até os retratos que enfeitavam a sala e ficou parado ali um bom tempo, ainda com estas perguntas na cabeça. Ficava se perguntando, se tivesse percebido tudo isso antes, sua vida poderia ser diferente, e não ter acabado ali, um velho sozinho, se perguntando sobre a vida, sobre o que poderia ser diferente, e que se contenta em morar em uma casa pequena com algumas rachaduras.
Cansou.
Foi olhar o movimento da rua. Ficou parado ali, observando as pessoas. Seus vizinhos o cumprimentavam com um sorriso simpático, mas ainda assim, torto. Imaginou que as vidas daquelas pessoas talvez poderiam ser melhores do que a sua.
Talvez.